Lavinia Góes é uma artista brasileira radicada em Paris.
DECLARAÇÃO DE ARTISTA (pt)
“Eu utilizo a pintura como meio para estimular a memória afetiva e lúdica do espectador. A ideia é promover um intercâmbio das minhas identidades culturais através do uso de cores e traços fortes, pela fabricação das minhas próprias tintas com pigmentos vegetais brasileiros e minerais franceses e, ainda, pela livre representação de recipientes como potes, vasos e garrafas, resultado de uma vasta pesquisa sobre a cerâmica.
Meu fluxo de trabalho é espontâneo mas começa, normalmente, com desenhos de observação das formas que estudo. Essas formas, pouco a pouco vão sendo armazenadas no meu imaginário e posteriormente acabam surgindo livremente na pintura. Eu quase sempre trabalho em série, faço várias obras ao mesmo tempo. Além dos experimentos com o desenho, o que é preparado antes das sessões de pintura são apenas as tintas. Não há um planejamento específico na ação pictórica. Atualmente, minha prática artística está focada em temas que se entrelaçam: a fabricação de tintas e a pesquisa sobre louças e cerâmicas. Estabeleço uma ligação com a minha dupla identidade cultural franco-brasileira através da fabricação de tinta acrílica. Uso pigmentos de plantas brasileiras como jenipapo, faveira e urucum e terras como os ocres da Borgonha, na França. Também intercalo o uso de tintas industriais e artesanais para não me impor regras que possam engessar a minha espontaneidade no fazer mesmo que exista um método artístico. As louças (vaisselle), porcelanas e cerâmicas aparecem no meu trabalho por algumas razões. Primeiro, o caráter ritualístico, no meu caso a lembrança dos Natais na casa da minha avó e a sua louça especial para tais eventos. Depois histórico, pois desde os tempos remotos, a cerâmica sob diversas formas e funções, é encontrada como vestígio, pode contar a história das civilizações e ainda identificar suas origens. As técnicas de artesanato de arte e a valorização do savoir-faire francês da porcelana como patrimônio imaterial também me interessam. E finalmente, a transformação terra, água, fogo em objeto que me encanta.
Ao fazer um mergulho na minha memória descobri que por ter passado por diversas rupturas e separações, mudanças de cidade, país e de amores, meu trabalho fala simbolicamente sobre pertencimento. Pertencer a algum lugar, ou à alguém, ou a um ou vários grupos. Não é à toa que eu represento objetos que são recipientes. Recipientes permitem a mobilidade do conteúdo que guardam, permitem mudanças. Recipientes abrigam, protegem e conservam seus conteúdos. Recipientes pertencem a pessoas e são trocados, passam de mãos em mãos. Recipientes que guardam coisas também são guardados. São esquecidos, são redescobertos. Recipientes têm e revelam identidades, uma técnica, uma época, um modo de fabricação, um estilo, memórias. Acredito, portanto, que todas essas questões estão intimamente conectadas e ainda merecem bastante investigação pois ainda podem se manifestar sob diversas formas dentro do meu próprio trabalho.”
BIO (pt)
Lavinia Góes cria pinturas semi abstratas, coloridas com traços vigorosos, sobre madeira e tela usando tinta acrílica. Sua obra é inspirada na sua própria memória afetiva, as rupturas causadas por suas diversas mudanças para diferentes cidades e países, a luz e o calor dos trópicos.
Sua prática artística está focada em dois temas: a fabricação de tintas e uma pesquisa histórica sobre a cerâmica. Ela ressalta sua dupla identidade franco-brasileira através da fabricação de tinta acrílica com pigmentos vegetais brasileiros e minerais franceses. A cerâmica, mais especificamente os jogos de louça, é representada em seu trabalho pelo caráter ritualístico e familiar, pois remete à lembrança dos jantares de Natal na casa de seus avós. Mas também por um aspecto simbólico: como recipientes. Recipientes são objetos móveis que abrigam, protegem e conservam seus conteúdos. Então pode-se dizer que seu trabalho fala mais profundamente sobre pertencimento.
Nascida no Rio, criada em Brasília, Lavinia vive e trabalha em Paris desde 2009. Formada em Artes Plásticas com especialização em Teoria, Crítica e História da Arte, ela se interessa pelas interseções e inter-relações entre arte e design. Também é diretora e curadora de sua própria galeria e trabalha como designer gráfica há 25 anos.